Jornais e RevistasNo fio da navalha

13/05/2018by Expresso

TRADIÇÃO RENOVADA

O canivete português tem uma história longa, mas foi quando esta ameaçava perder-se que Carlos Norte decidiu tomar medidas. Foi com a recuperação dos modelos do canivete português que voltaram à produção de cutelaria artesanal — estavam ligados à produção industrial de cutelaria e perceberam “que o canivete de bolso estava a perder qualidade com a invasão do produto chinês a baixo preço” — e o salvaram do esquecimento. Mais do que referências a locais ou funções, os nomes dados aos canivetes (corneto, enxertio, relvas, direita, marinheiro, cuchila, cabriteira, caneças e bandido) eram a prova de que havia uma relação com o objeto que merecia ser mantida.

“Somos herdeiros de forjadores de cutelaria e navalheiros na zona de Benedita, Santa Catarina, onde existiam cerca de 40 cuteleiros registados nos anos 50”, conta ao Expresso, e foi na antiga casa dos avós que construíram o ateliê de cutelaria. “Começámos por recriar esses modelos mais carismáticos dos canivetes portugueses, dando-lhes valor e qualidade artesanal para os divulgar além-fronteiras”, diz Carlos Norte orgulhoso, numa altura em que os canivetes voltaram a ser mais apreciados. O sector já ganhou uma Feira Internacional de Cutelaria — acontece entre 1 e 2 de setembro em Caldas da Rainha e conta com workshops na programação — e o objetivo é continuar a dar a conhecer a arte tradicional.

O responsável pela Lombo do Ferreiro explica que os seus artesãos trabalham “com técnicas antigas, como a forja e a bigorna, para moldar e trabalhar o aço”, à qual somaram “a engenharia moderna em alguns processos, para melhorar a qualidade”. Num período de renovação que pretende manter-se fiel à tradição, Norte exemplifica que o corte das lâminas pode ser feito a laser, “mas todo o restante trabalho no aço é realizado na forja, para que cada peça seja tratado individualmente”. “A escultura dos restantes materiais é realizada apenas com ferramentas elétricas simples, à mão livre, tornando as peças únicas, sempre diferentes”, garante. Praticamente todos os materiais que usam são de origem natural — do aço às madeiras, passando por ossos e chifres de animais — e estes são trabalhados de forma a salientar a sua “beleza natural”, assim como a “raridade ou nobreza” que lhes é característica.

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